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21 de jun. de 2007

o ventilador em questão é de uma estória com rcesar, um amigo meu, quando eu perguntei para ele se lá em sheffield não tinha uma loja que vendia ventiladores que vinham equipados com botão que liga o fodas. é que ele andava precisando urgentemente disso. o post é para o próprio rcesar, em sua então atual crise de relevância.
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mais uma vez, estava fazendo tudo errado. é que uma época achou que, um dia, faria tudo certo. sempre fez tudo errado, mas, desde que vira tal estado de coisas, ficou mais tranqüilo. aos noventa anos, como lhe havia dito um amigo no calçadão do leblon, entre um barril e outro de cerveja vagabunda, afinal havia encontrado o ventilador. refeito, resolveu recomeçar:
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mais uma vez, estava tentando. dessa, precisava ficar mais parado. desligou o rádio, a tv e até mesmo o telefone. não entendia o porquê de, até havia pouco, tanta dificuldade em tomar essas iniciativas. seria aquele um estado passageiro, ou alguma coisa que também viera para ficar, como algumas daquelas que só ocorrem aos noventa?
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achava, como podem já ter notado os transeuntes, que tinha à mão, desde o sempre, as decisões. como aquele outro, amável fazendeiro, adorava assomar à escadaria e distribuir algumas ordens. sem 'por favor'. também como ele, achava que aquilo era uma questão surda de direito adquirido.
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acreditando, resolveu (estava sempre resolvendo, a cada instante de sua vida: tinha algum expediente nisso) reler seu bobajol, e viu que não dissera ainda os motivos que o levavam a tal atitude de pêndulo em fogo brando. era o seguinte: com aquele mar à sua frente, ondas entorpecentes, brancos e azuis espumantes, vento forte a lhe atravessar os ouvidos, não tinha mais opções. parado seria o inverso do excesso de movimento de havia pouco. aos noventa, achava que, afinal, não era mais adolescente. podia correr o risco de ficar sem algumas coisas. podia, por exemplo, experimentar ficar sem perspectivas quanto a seu futuro, sempre tão extenso e insondável. parado, queria atenção. não sabia se já havia morrido e, num sonho de morto, acreditava que estava vivendo alguma coisa. também, entre isso e achar que estava morrendo, era apenas uma questão de escolha. guenta aí, disse alguém. nada disso importa. viu seu colega, também de sunguinha nonagenária, destrambelhar e, em seguida, ficar arrependido. estava achando-se frívolo. ia indicar a ele a loja do ventilador: era premente que o colega desencanasse: adorava lê-lo.