já fiz tudo o que eu sabia fazer. do que sobrou, dei de graça. não guardei comigo nenhuma recordação do que eu era, mas agora já não era mais preciso nada disso. tanto fazia, porque aquelas coisas que eu gostava de ter comigo não me interessavam mais. esse estado é perigoso, porque eu vou deixando de gostar das coisas. das pessoas. meu medo delas vai se tornando mais agudo. vou perdendo a auto estima, vou listando minhas bacanices...
perco a habilidade – não. nunca tive. mas nem sempre isso foi motivo de sofrimento. existem algumas pessoas que gostam de mim. eu choro quando me lembro delas. como quem dá adeus, morrendo de saudade e de tristeza.
que choro é esse? o que é essa coisa sem fim que me faz mergulhar no de dentro de mim, dura? amarga, difícil de permitir recair, sobre si, o olhar do outro. escrevendo assim, como nessa última frase, eu construo uma distância entre o eu atual (o que está escrevendo) e aquele outro, objeto de observação (o que chora). é como se me descolasse, assim, de minha tristeza.
minha máquina de gostar está doente.