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17 de out. de 2010

Essas pessoas não sabem quem são. Nos hospitais, não recebem visitas, não falam, não lembram de nada. E ninguém lembra deles. Muitos vieram de outras cidades. Foram vítimas de traumas que causaram danos irreversíveis. Sem ter a quem procurar, nem como recorrer a ninguém, e também sem serem procurados, sobram nos hospitais. Sobram pois nada conhecem, e ninguém os conhece. Um dia, recebem uma certidão de nascimento para inventarem alguém para ser. E assim deixam os leitos em favor de outros que os preencherão. Nas calçadas, nada sabem, nada são, nada esperam, nada amam, nada querem. Também, nada temem. Sofrem até a morte, que lhes abrevia a vida e permite que o vento volte a varrer o lugar.