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3 de mar. de 2009

Projetar é diferente de representar. Enganam-se aqueles que crêem no oposto. No caso, me refiro a representar qualquer coisa – qualquer ponto de vista. Não me interessa isso, mas sim o fato que tal representação é sempre uma ação de segunda mão. Representar é sempre representar algo que, por sua vez, é mais primeiro, mais original, mais real, porém também mais fugidio. A tarefa do arquiteto só se restringe assim a esse papel de segunda ordem que é representar se ele assim o deliberar. Representa quem abdica de ser o protagonista do ato. Por aí se chega a uma concepção bastante estreita a respeito do que se passa quando da azáfama caótica de um atelier de projeto em ação, onde se representa muito pouco. Um olhar mais atento ao que ali se passa pode testemunhar o surgimento de algo, enquanto ele ainda não o é. Sem pressa, exige a mesma falta de pressa de seu observador. E vai todo mundo à puta que pariu.

nada do que um olhar de sobrevôo, INDEPENDENTE DA ALTURA DESSE SOBREVÔO, puder "saber" sobre a "coisa", dá conta da complexidade autogenerativa da atividade criativa. podem ir tirando o cavalinho da chuva... larga dessa pretensão em "conhecer" o gesto criativo.

ainda assim, pode-se conhecer alguma coisa sobre ele. por exemplo, pode-se conhecer que não há algo como uma "compreensão" acerca do tema que abarque toda a complexidade do próprio tema. cada qual cuida do seu cada qual. o tema cuida de si, e o crítico cuida da vida dos outros. esse jogo não tem nada de simples. projetar está longe de ser algo que possa ficar no lugar de uma coisa conhecível, mas isso somente porque projetar é lançar para frente, apenas. projetar é se colocar no lugar de quem joga esse jogo de se lançar para frente. nem a estabilidade passada, quando eu estava de pé, nem a futura, quando vôo ou me espatifo. tem algo da dúvida quando se projeta. projetar é administrar esse estado do "-entre". fayga sábia conhecia a tensão criativa, e escreveu a respeito, principalmente, de si. falou de uma perspectiva sua, íntima, pessoal. o que as pessoas falam de íntimo ou pessoal em um projeto? quais fetiches cultivam?

porque fazer projeto tem que ser algo transmissível em alguma outra língua ou lógica? pera lá. tô mais para nigel cross: tem uma coisa primeira no projetar que quem lida apenas com representações está longe de saber do que se trata. diríamos, especificidades do ofício. tem que fazer projeto para saber do que se trata. otherwise, impossível.

então a teoria do projeto é uma possibilidade de diálogo entre quem faz projeto. um olhar de quem faz projeto a respeito da execução do projeto. longe de ficar igual papagaio, espantalho, retórico, caralho-a-quatro. falar sobre o que não se faz pode ser interessante para uns, mas tem gente que prefere fazer coisa melhor.