Uma época eu estava ensaiando voltar a escrever, e isso lhe parecia um trabalho muscular. Enquanto não estava ali, não tinha essas idéias, mas quando retornava àquela posição silenciosa, então simplesmente isso lhe parecia uma obrigação. Não era concebível que aquela decisão não fosse tomada.
Depois do ensaio, o assassinato propriamente dito:
Era lógico que não iria abrir mão do gostinho de rabiscar algumas linhas. Mesmo que não contivessem nada que interessasse. Era somente uma maneira de dizer que escrever não era nada tão muscular como houvera imaginado. Muito pelo contrário, as teclas iam ficando lerdas para o tanto de coisa que estava querendo ser escrita. Em verdade, nada antevia nessa espécie de sala de espera, que em nada lembrava a idéia pronta – para isso, nem querendo: parecia uma sala completamente esfumaçada: não se via lhufas do que se fazia ali ou fora dali. O fato de ela ser esfumaçada não tinha nada a ver comigo ou contigo, meu leitor. Ela já vinha assim: pacote fechado. Parecia uma sala cheia de joelhos. A princípio, um leitor menos avisado poderia ser levado a crer que não há nada mais esquisito que uma sala cheia de joelhos. Mas é a tal da coisa muscular. Ser muscular é promessa de movimento sem fim. Luta entre interesses divergentes. Eu gosto assim.