1
..
17 de mar. de 2014
preciso desses recursos sempre que o chão se vai de sob os meus pés. se bem que, em verdade, ele nunca existiu mesmo, e esse é só um truquezinho que eu aplico aqui e ali.
posso passar horas ouvindo isso, e eu me encontro em cada compasso que ouço. a referência sou eu. eles existem porque os escuto. senão eram como latim - letra morta.
3 de mar. de 2013
11 de out. de 2011
13 de nov. de 2010
17 de out. de 2010
Essas pessoas não sabem quem são. Nos hospitais, não recebem visitas, não falam, não lembram de nada. E ninguém lembra deles. Muitos vieram de outras cidades. Foram vítimas de traumas que causaram danos irreversíveis. Sem ter a quem procurar, nem como recorrer a ninguém, e também sem serem procurados, sobram nos hospitais. Sobram pois nada conhecem, e ninguém os conhece. Um dia, recebem uma certidão de nascimento para inventarem alguém para ser. E assim deixam os leitos em favor de outros que os preencherão. Nas calçadas, nada sabem, nada são, nada esperam, nada amam, nada querem. Também, nada temem. Sofrem até a morte, que lhes abrevia a vida e permite que o vento volte a varrer o lugar.
21 de ago. de 2010
O último mestre do ar
A vila
Sexto sentido
Nao tenho visto muitos filmes, ultimamente. Ir ao cinema se tornou sinônimo de programinha dominical com tonton. Ele gosta do show do telão. Em versão 3D.
E os palhaços foram banidos – estão tristes.
Os palhaços estão aí
A estupidez humana é a principal ameaça.
Qualquer um ri de pallhaço.
De agora em diante, só quero trampo sem penso.
Quero poder ser espontâneo. E, hoje, ser espontâneo é meio como mandar à merda o contrato social. Eu estou, aqui, defendendo meu direito de detestar gente, em geral. Acho tudo um porre. Juntou, fudeu – bem, quanto a este último ponto, eu e o arquigenro devemos confessar que não é lá motivo para tanto alarde. Recompõe-se, arruma os cabelos, e continua sua preleção acerca daquela frase. O que eu queria dizer era que juntou gente, imperam os códigos, e eu quero distância. Não..... o que é isso.... vc é que vê as coisas assim..... as pessoas são boazinhas....Ainda assim é evidente, meu caro, que eu não tenho com ver se não a partir de meus pontos de vista.... para mim, benzinho, é impossível ver de outro modo, darling. Para mim, só tenho como ver – aliás, é justamente isso o que permite minha visão – a partir de meus olhos. Vc não? Duvido. Sou nietzschiano de carteirinha.
O buraco é mais em baixo.
14 de ago. de 2010
O QUE FAZIA DE IMPORTANTE ÀQUELA HORA?
PORQUE AQUILO QUE ESTAVA FAZENDO ESTAVA SOB A VISADA DE UM ALGUÉM SUPOSTO?
ELE NÃO CONVIVIA COM MUITAS PESSOAS. ERA UM SUJEITO QUE CONVIVIA COM POUCAS PESSOAS. ALIÁS, CADA VEZ MENOS. UM POUCO POR MOTIVOS PESSOAIS, ISTO É, VONTADE DE FICAR SOZINHO, MESMO, OUTRO POUCO POR RAZÕES EXTERNAS À ÁREA QUE SUPUNHA SOB SEU JUGO.
EXTERNAS, ISTO É, COISAS QUE ACONTECIAM FORA DE SUA JURISPRUDÊNCIA, COMARCA – COISAS QUE NÃO DEPENDIAM DELE PARA ACONTECER. TEM UMAS COISAS QUE NÃO TEM NADA A VER COM A GENTE. ACONTECEM SOB NOSSOS OLHOS, TÃO-SOMENTE. SEM QUERER SABER SE NOSSOS OLHOS ESTÃO PREPARADOS, OU DESEJOSOS, DAQUILO.
8 de jul. de 2010
A estrutura
Todas as áreas são objeto de cuidado. Tanto as cobertas quanto as não cobertas, nas coberturas ou nos rés-do-chão. Todos os limites são apresentados. A cidade é um oásis. Sua ocupação é densa. Não há restos. Qualquer área já foi objeto de algum projeto e obra. Não se fala mais em cidade-refúgio x vastidões ignotas, pois essas últimas não existem mais.
Ainda que cada edifício se proponha a organizar alguma coisa, o conjunto, diferentemente, não personifica a ordem. Algo do não-projetado se mescla com o projetado. O aleatório participa desse jogo. Como?
Se todos os milímetros quadrados representados nessa imagem foram, algum dia, objeto de projeto e obra, a superposição dessas histórias de desenho irregular nos os apresenta como que restos de histórias. Vejo vestígios desconexos, e não tenho mais acesso às suas racionalidades, isto é, olho para um pedacinho da imagem e fico achando que é irracional, mas não é. O conjunto apresentado na imagem não é objeto de um projeto, mas ali vários pedaços de história se entrelaçam, fazendo com que o observador acredite estar diante de uma imagem sem racionalidade alguma que a geste.
Então, o aleatório não participa de um modo, e participa de outro. Não é um aleatório projetado por alguém (alguma racionalidade qualquer). Não é um aleatório desejado ou imposto. Porém, é algo que está aí e que condiciona os projetos. Sempre estará aí, pois se um projeto é, mais que um projeto de coisa, projeto de relações, então ele está, continuamente, lidando com o que desconheço.
Esse me parece um medo generalizado entre os projetistas que conheço. Fazer um projeto de coisa (em oposição a um projeto de relações) gera, frequentemente uma relação especular entre o arquiteto e a obra. Filhos do iluminismo, período quando os homens cobriam o rosto com pó de arroz e usavam perucas, o arquiteto sente-se obrigado a fazer daquele trabalho uma extensão de si. Para isso, ornava-se e ornava-o com os melhores atavios. Precisava estar apresentável: o projeto era um instrumento de propaganda do projetista. Momento seguinte, ao ver-se do lado de fora, o arquiteto é tomado por obsessões curiosas: ou ele se acha lindo ou, contrariamente, medonho. No primeiro caso, narciso apaixonado, se torna presa do que sua cabecinha compreende como sendo o seu ideal: aquilo que ele gostaria de ser. No segundo, ferido, ele nunca mais vai querer ouvir falar em projeto arquitetônico. Durante a escola, essa alma vai-se identificar com aqueles que, como ele, detestam projeto – muitas vezes pelas mesmíssimas razões. Há-os de vários tipos: aqueles professores de projeto que nunca fizeram projeto; aqueles que acham que "não precisa fazer projeto" [sic], e que crêem que essa afirmação não necessita um mínimo de delimitação ou circunstanciamento, para ficar minimamente compreensível; há professores que preferem livro a desenho; há professores que têm a cara de pau de ensinar uma coisa que não sabem.
Isso precisa explicação. Parto da hipótese de minha tese: não há método para projeto. Nem há um corpo de conhecimento (nenhuma categoria) definitivo, estável, isto é, dotado das características do ser, ou delimitação disso possível, que seja necessário e suficiente para o ensino do projeto. A partir daí, não há um corpus a ser transmitido entre mentes. Na falta disso, não se tem o que ensinar. Costumo dizer que projeto não se ensina, mas se aprende. Taí a explicação para o final do parágrafo acima. Projeto não se ensina, e se não há um corpus suficiente, os professores não são detentores de saber algum a ser transmitido. Eles não sabem pois não há nada a saber. Mas, fascinados pelos corpus, como em sedução erótica, eles vestem as roupas novas dos reis.
Porém, horror vacui. É intolerável o vácuo, a inexistência de qualquer coisa que sirva como fundamento para o projeto. Se é intolerável, é também misterioso: mas como assim, pode nada haver em local de onde surgem coisas? Na falta, quaisquer conteúdos são utilizados para preencher o vazio. Se alguns acreditam nisso, e encobrem-no com pó de arroz, outros andam preferindo deixar o caso em aberto.
22 de jun. de 2010
18 de mai. de 2010
American idol
Uma vez olhou – como Clarice, ele se demorou olhando para fazerem existir algumas coisas. E esse olhar demorado encontrou outro. Daquele instante em diante, estavam juntos. Só deixaram de se olhar quando isso não foi mais possível. Um olhar havia se fixado no outro, pois era recíproco. Daquele instante em diante, não era mais preciso ser mais nada. Foi perdendo o interesse pelas pessoas.
Um final possível seria ter se tornado um eremita, com unhas e cabelos no para-sempre, e logo em seguida morrido. Preferiu tomar um outro caminho.
Ouvira um elogio indireto aquele dia. E mais outro, de tabela. Aliás, ouviu mais. Logo pela manhã, a tia lhe telefonara carinhosa, me dizendo que eu era um leitor especial. Depois, ouviu a aluna lhe falar de uma outra professora sua, que, em sala de aula, citara um poema – ele sabia que esse poema, que poderia se chamar "Kaos", era sua defesa contra a argumentação da tal professora. E, sabia-o bem, ele que havia apresentado o poema à professora. Mais tarde, essa mesma professora lhe dizia que, num discurso de posse, o diretor o citara nominalmente em um elogio aberto à comunidade.
Então, tão elogiado que fora, resolveu mudar o curso das coisas. Apaixonou-se pela idéia de apaixonar-se. E seu olhar passou a procurar, para fazer existir. Parecia uma fórmula matemática complexa, mas acho que ele não acreditava nisso nem um pouco. Porque, senão, bodava rapidamente. Voltava a escrever um pouquinho. Chorava, um pouquinho também. Certas idéias o faziam chorar. Principalmente, a ingenuidade fazia-o chorar. E também Bach – a generosidade. A atenção, e todas aquelas coisas luxuosas. O amor.
A gente ouve o silêncio. It just did change the way I feel things. Com menos, ao invés de mais, menos pessoas, menos planos, menos ilusões, menos metas, menos caminhos, estava aprendendo a ficar sozinho. O que é o mesmo que aprender a morrer. Aprender a morrer é aprender o tempo todo, e ninguém nunca saberá, ninguém nunca poderá dizer: eu sei morrer. Pode ser como aprender um aprendizado sem fim. É aprender a fazer uma passagem para o desconhecido. Aprende-se isso no Kaos: tornando-se íntimo do desconhecido, recebendo-o em vida.
O poema
O caminho se faz a andar
Antonio Machado
American idol
Uma vez olhou – como Clarice, ele se demorou olhando para fazerem existir algumas coisas. E esse olhar demorado encontrou outro. Daquele instante em diante, estavam juntos. Só deixaram de se olhar quando isso não foi mais possível. Um olhar havia se fixado no outro, pois era recíproco. Daquele instante em diante, não era mais preciso ser mais nada. Foi perdendo o interesse nas pessoas.
Um final possível seria ter se tornado um eremita, com unhas e cabelos no para-sempre, e logo em seguida morrido. Porém, preferiu tomar um outro caminho.
Ouviu, entretanto, um elogio indireto aquele dia. E mais outro, de tabela. Aliás, ouviu mais. Logo pela manhã, a tia lhe telefonara carinhosa, me dizendo que eu era um leitor especial. Depois, ouviu a aluna lhe falar de uma outra professora sua, que, em sala de aula, citara um poema – ele sabia que esse poema, que poderia se chamar de "Kaos", era sua defesa contra a argumentação da tal professora. E, sabia-o bem, ele que havia apresentado o poema à professora. Mais tarde, essa mesma professora lhe dizia que, num discurso de posse, o diretor o citara nominalmente em um elogio aberto à comunidade.
Então, tão elogiado que fora, resolveu mudar o curso das coisas. Apaixonou-se pela idéia de apaixonar-se. E seu olhar passou a procurar, para fazer existir. Parecia uma fórmula matemática complexa, mas acho que ele não acreditava nisso nem um pouco. Porque, senão, bodava rapidamente. Voltava a escrever um pouquinho. Chorava, um pouquinho também. Certas idéias o faziam chorar. Principalmente, a ingenuidade fazia-o chorar. E também Bach – a generosidade. A atenção, e todas aquelas coisas luxuosas. O amor.
A gente ouve o silêncio. It just did change the way I feel things. Com menos, ao invés de mais, menos pessoas, menos planos, menos ilusões, menos metas, menos caminhos, estava aprendendo a ficar sozinho. O que é o mesmo que aprender a morrer. Aprender a morrer é aprender, e ninguém nunca saberá, ninguém nunca poderá dizer. Ou seja, pode ser como aprender um aprendizado sem fim. Retornando, é aprender a fazer uma passagem para o desconhecido. Aprende-se isso no Kaos: tornando-se íntimo do desconhecido, recebendo-o em vida.
7 de mai. de 2010
12 de abr. de 2010
Tenho visto uma boa utilidade em visitar esse blog abandonado.
Assim posso deixar de ser alguma coisa. Porque ando querendo ser cada vez menos coisa. E ser pouca coisa é muito bom, pois economiza a burocracia. O depto. Administrativo já está montado. E é um departamento que vai ficar meio à-toa, do jeito que gostam, felizinhos, com Ângela de secretaria e Marilene de assistente de secretária, todos na maior alegria.
Venho a esse blog, então, para deixar de ser um pouco. Esse blog é um tipo de férias. Vindo aqui, não preciso ir sendo nada. Dispenso o departmento de auto-ensaios. Férias felizes a todos. E eternas. Férias eternas. Todos rindo todos os dias, até ficarem todos enrugados e velhos.
Otavio-isso, Otavio-aquilo... uau... que saco... gosto de ficar aqui, sem precisar inventar alguém para ser, a todo instante. Sem ter que desempenhar papéis preestabelecidos. Mas, e para além desse papo adolescente?
Insira o título da postagem aqui.
11 de dez. de 2009
26 de set. de 2009
Marezona de bek
Por vezes quando acho que não consigo escrever
(estou com esse assunto na cabeça – e, de resto, faço muito gosto que, da cabeça, a coisa passe para as mãos)
Não sou agora aquele que escreveu a segunda linha. Por isso não posso continuá-la. Pois escrever isso que está sendo escrito demanda que a coisa passe para as mãos. Então, vamos logo encerrando aquele assunto desagradável e iniciando outro qualquer:
Será que vou demorar cinqüenta minutos para iniciar essa linha? Me parece que o estado de vontade é tão justificado quanto o que se nega a se apresentar neste escrito. De qualquer modo, isso aqui é um júri onde só uma parte tem voz. Engraçado isso. Também do lado de cá, a coisa é ditatorial, ou, para ser menos azedo, satisfeito consigo próprio, ou seja, mais à vontade na própria pele, achando que esta é uma vida que vale a pena ser vivida.
Ditatorial nada. Simplesmente, aqui não tenho vontade de ser outra coisa.
9 de set. de 2009
rAdiohEad
Be a world child, form a circle
Before we all go under
And fade out again and fade out again
6 de set. de 2009
Projeto e verdade
A teoria do projeto não é um corpo constituído de conhecimentos a ser devidamente estocado ou instrumentalizado pelo arquiteto. Essa é uma possível pretensão da assim chamada teoria da arquitetura. A teoria do projeto não é uma teoria, no sentido acadêmico. A teoria do projeto especula sobre o projeto en se faisant.
A teoria do projeto também não é hermenêutica, pois não está interessada em supostas verdades a serem desveladas. Aqui, a verdade perde qualquer utilidade. A teoria do projeto está, talvez, interessada na suposição dessa verdade. A quem interessaria isso? Falando rudemente, uma verdade pode ser tudo, mas nunca operacional. E quem projeta precisa de instrumentos para operar a realidade. Querer fazer do projeto a re-presentação de alguma verdade extrínseca é concepção muito rasteira acerca do assunto. É uma re-presentação provinda, tão-simplesmente, de quem não projeta. O não conhecimento do métier deixa, por vezes, o crítico em posição vexatória.
A TP acende hofotes sobre projetos sendo feito, e apaga holofotes sobre obras prontas. Absolutamente, a TP não é prescritiva, moralizante, ideológica ou tem pretensão a subir no trono DE CONDUTOR DO PROCESSO CRIATIVO. Disso os projetistas já estão locupletados. Já tem bastante gente querendo isso. Anti-teoria uma vez que varre de cena temas como conceito, representação, idéia e, fundamentalmente, método. Como uma teoria a-teórica, ela persegue um método a-metódico: preste atenção nas evoluções dos projetos.
Assistemática e a-metódica, a TP não se encaixa na árvore dos saberes categorizados, aproximando-se mais da enciclopédia de animais borgeana ou o ornitorrinco de U. Eco. O leque produtivo da TP é muito mais abrangente, uma vez que seu escopo não está dado de antemão.
23 de ago. de 2009
Desde Clarice, para começar a escrever não é necessário que, antes, eu me municie com conteúdos. Esse modo de se ver o processo criativo perde, completamente, o sentido. Torna-se algo datado. O desdobramento das próprias palavras, frases, parágrafos, providenciam material suficiente. Isso se parece com mais um difícil surgimento de novas concepções acerca das coisas, do mundo, das criações. Uma nova concepção data a anterior. Fecha o desenho dos limites daquela concepção que a precedeu, enquanto prossegue pesquisando o seu próprio, em contínua depuração: o que realmente interessa?
4 de jul. de 2009
27 de jun. de 2009
O clube da luta
Ao final do filme, ele se recupera de um suicídio, pela janela vêem alguns edifícios explodindo, e ele diz a ela: marla, vc me conheceu em uma época muito estranha da minha vida.
16 de jun. de 2009
15 de jun. de 2009
Pedro e o lobo
Sobre tudo o mais eu estou chorando três e-mails lindos que eu recebi hoje, de gente que fala com o coração. Todos os três atenciosos, em estado de abertura, curiosidade, interesse, gentileza.
Tocar e ser tocado – não conheço nada melhor. Sou feliz por poder ter isso, um pouco.
Como no Abril despedaçado, na cena em que o patriarca do clã oponente pergunta a Pedro: você conhece o amor? E prossegue: nem vai conhecer. Mas Pedro, ao final do filme, pega o outro caminho, naquela bifurcação.
14 de jun. de 2009
6 de jun. de 2009
28 de mai. de 2009
12 de mai. de 2009
I jumped in the river and what did I see?
Black-eyed angels swam with me
A moon full of stars and astral cars
All the things I used to see
All my lovers were there with me
All my past and futures
And we all went to heaven in a little row boat
There was nothing to fear and nothing to doubt
1 de abr. de 2009
31 de mar. de 2009
26 de mar. de 2009
Nasci aqui – nunca fui a lugar algum.
Nem quis.
Aqui é sempre entre uma coisa e outra.
Nunca fui nem serei – e isso não é bom nem ruim.
Fui tarde, serei cedo. Nunca na hora certa: ela não existe, uma vez que nunca a vi.
O que nunca vi, nem do que nunca ouvi, por que existiria?
Nada me desacredita a pensar, então, que não existe.
Assim posso começar. Assim não posso mais que começar – o tempo todo. Começar é a proposta de alguma coisa diferente. Começar sempre é conviver com um mundo estranho, nunca visto, nunca lidado.
Isso pode ser bom e ruim.
Quero aprender a achar bom.
Vou começar.
Começar a repetir tudo de novo.
In limbo
3 de mar. de 2009
Projetar é diferente de representar. Enganam-se aqueles que crêem no oposto. No caso, me refiro a representar qualquer coisa – qualquer ponto de vista. Não me interessa isso, mas sim o fato que tal representação é sempre uma ação de segunda mão. Representar é sempre representar algo que, por sua vez, é mais primeiro, mais original, mais real, porém também mais fugidio. A tarefa do arquiteto só se restringe assim a esse papel de segunda ordem que é representar se ele assim o deliberar. Representa quem abdica de ser o protagonista do ato. Por aí se chega a uma concepção bastante estreita a respeito do que se passa quando da azáfama caótica de um atelier de projeto em ação, onde se representa muito pouco. Um olhar mais atento ao que ali se passa pode testemunhar o surgimento de algo, enquanto ele ainda não o é. Sem pressa, exige a mesma falta de pressa de seu observador. E vai todo mundo à puta que pariu.
nada do que um olhar de sobrevôo, INDEPENDENTE DA ALTURA DESSE SOBREVÔO, puder "saber" sobre a "coisa", dá conta da complexidade autogenerativa da atividade criativa. podem ir tirando o cavalinho da chuva... larga dessa pretensão em "conhecer" o gesto criativo.
ainda assim, pode-se conhecer alguma coisa sobre ele. por exemplo, pode-se conhecer que não há algo como uma "compreensão" acerca do tema que abarque toda a complexidade do próprio tema. cada qual cuida do seu cada qual. o tema cuida de si, e o crítico cuida da vida dos outros. esse jogo não tem nada de simples. projetar está longe de ser algo que possa ficar no lugar de uma coisa conhecível, mas isso somente porque projetar é lançar para frente, apenas. projetar é se colocar no lugar de quem joga esse jogo de se lançar para frente. nem a estabilidade passada, quando eu estava de pé, nem a futura, quando vôo ou me espatifo. tem algo da dúvida quando se projeta. projetar é administrar esse estado do "-entre". fayga sábia conhecia a tensão criativa, e escreveu a respeito, principalmente, de si. falou de uma perspectiva sua, íntima, pessoal. o que as pessoas falam de íntimo ou pessoal em um projeto? quais fetiches cultivam?
porque fazer projeto tem que ser algo transmissível em alguma outra língua ou lógica? pera lá. tô mais para nigel cross: tem uma coisa primeira no projetar que quem lida apenas com representações está longe de saber do que se trata. diríamos, especificidades do ofício. tem que fazer projeto para saber do que se trata. otherwise, impossível.
então a teoria do projeto é uma possibilidade de diálogo entre quem faz projeto. um olhar de quem faz projeto a respeito da execução do projeto. longe de ficar igual papagaio, espantalho, retórico, caralho-a-quatro. falar sobre o que não se faz pode ser interessante para uns, mas tem gente que prefere fazer coisa melhor.
Uma época eu estava ensaiando voltar a escrever, e isso lhe parecia um trabalho muscular. Enquanto não estava ali, não tinha essas idéias, mas quando retornava àquela posição silenciosa, então simplesmente isso lhe parecia uma obrigação. Não era concebível que aquela decisão não fosse tomada.
Depois do ensaio, o assassinato propriamente dito:
Era lógico que não iria abrir mão do gostinho de rabiscar algumas linhas. Mesmo que não contivessem nada que interessasse. Era somente uma maneira de dizer que escrever não era nada tão muscular como houvera imaginado. Muito pelo contrário, as teclas iam ficando lerdas para o tanto de coisa que estava querendo ser escrita. Em verdade, nada antevia nessa espécie de sala de espera, que em nada lembrava a idéia pronta – para isso, nem querendo: parecia uma sala completamente esfumaçada: não se via lhufas do que se fazia ali ou fora dali. O fato de ela ser esfumaçada não tinha nada a ver comigo ou contigo, meu leitor. Ela já vinha assim: pacote fechado. Parecia uma sala cheia de joelhos. A princípio, um leitor menos avisado poderia ser levado a crer que não há nada mais esquisito que uma sala cheia de joelhos. Mas é a tal da coisa muscular. Ser muscular é promessa de movimento sem fim. Luta entre interesses divergentes. Eu gosto assim.
29 de jan. de 2009
21 de out. de 2008
Às vezes acho que eu e minha tese estamos nos levando à loucura. Por vezes, parece que é quase ultrajante propor coisa assim. Por outras, pura picaretagem.
Ainda assim, resistimos em nossas assinaturas. Resistimos como possíveis de um universo incompleto desde todo o sempre. Em nome desse universo incompleto.
Acima, um exemplo da viajação que nos tornamos. Aqui, neste universo, viaja-se.
O Sol não mais gira em torno da Terra;
A Terra não é mais plana;
Projetar deixa de ser compreendido como representação do que quer que seja. Projetar é das espécies de verbos que apresentam algum grau de abertura em sua definição. Projetar não é; projetar vai sendo.
18 de set. de 2008
16 de set. de 2008
12 de set. de 2008
11 de set. de 2008
Chumbo grosso
A guerra era de morte. Uma tensão que parecia ultrapassar os limites do tolerável. Por isso, resolveu ficar em casa. Não queria fazer nada. Havia morrido seu amor, e depois toda a sustentação que um amor como aquele lhe dera por algum tempo. O amor se foi, e seu amor por ele sustentou um determinado jeito de ser, até que esse se foi também. Com a ida da sustentação, voltou para um lugar da confusão. O lugar do não saber o que era, nem o que queria. Depois de alguma conversa, melhorou. Ela dizia que conversa sempre melhora. Saiu de lá achando que aquele lugar, absolutamente, não era tão incômodo assim. Aquele era um jeito de ser, ainda que confuso ou meio estrambólico – ontologia com sinal menos na frente. Acomodando-se como pode, ali, começou a procurar nos classificados do estado de minas. De repente, parou. Não havia nada ali para ser. A confusão aumentou. E escreveu, como Clarice, para se entender. Mas, naquele cenário obtuso, para quê se entender? Não seria melhor, simplesmente, ir sendo?
8 de set. de 2008
Sobre o projeto do meu apartamento
Procurei por um ano um apartamento que atendesse a alguns requisitos: 4 quartos (sem ter ainda comprado o apartamento, eu já sabia que iria juntar dois quartos às salas); perto de Tomás, dentro de uma faixa de preço que fosse compatível com meus planos, localização, ruas etc. antes, havia procurado uma casa, mas os preços estavam fora de cogitação. Eles nada cogitavam.
Arrumei, por conseguinte, um corretor que muito me agradou. No primeiro encontro, ele me levou para ver um AP e, chegando lá, não havia como abrir a porta do imóvel. Bufei. Mas ele era gente boa, e foi sacando o que eu estava de olho, o que eu queria mas poderia abrir mão, essas coisas.
Chegando neste, ele viu comigo pela primeira vez o AP e, voltando-se para mim, disse: já sei o que vc vai fazer nesse AP. coisa que, de fato, fiz.
Esse foi o primeiro capítulo.
6 de set. de 2008
Então estava vivendo aquela vida de nômade. Fixava-se em alguns tipos e, quando menos estava esperando, já se via imitando-os. Imitava apenas aqueles de quem gostava. Imitava aqueles que queria ser quando crescesse. Imitava-os para sê-los. E ficava pensando sobre aquilo: convencer-se-ia de que era assim mesmo que deveria fazer? Muito cedo se descobriu sem o amparo do método. Ainda que estudasse muito e lesse livros, para esse mal não encontrava recursos. Ao mesmo tempo em que nadava em uma piscina de gasolina em chamas, não via nenhuma razão para fazer coisa diferente. Era uma verdadeira enrascada. Ser sem método não era uma escolha. Era uma condição, e para piorar as coisas, achava que era uma condição geral de todos.
29 de ago. de 2008
uma hipótese-
uma das peculiaridades da tese é o fato de que, desde seu início, já anuncia que o corpo que o compõe é pura invenção. se pergunta o tempo todo: o que é o objeto, senão algo que estou, o tempo todo, inventando? à medida em que se cristaliza em alguma coisa, isso vira um capítulo. quando falo algo acerca do objeto estudado, ele desde o sempre já tem três níveis: o processo de criação em geral, o processo de criação de um grupo trabalhando em um projeto, e o relato que eu faço desse projeto. quando faço o relato (cap4) eu digo que ele já é um olhar absolutamente específico acerca do tema abordado e, que como tal, é pura invenção. as lentes, ao escolherem, inventam um percurso que lhes será particular. passado. futuro. Já na introdução do cap5, eu digo que, a partir desse olhar específico, narro episódios: invento sobre invenções delirantes. invento ao quadrado. cada capítulo é um aprofundamento do olhar sobre a coisa.
Agora, já em 2009, defendida a tese, desdeliro e vejo que se pode pensar um olhar específico como invenção, mas essa não é a única possibilidade. Esse olhar, se formos a Nietzsche, é o olhar do interesse.A pura invenção é interessada, e estou longe de ser um apaziguamento vetorial de interesses. sou, eu também, um feixe de interesses pouco amistosos entre si, mas fou ficar forte e dar uma espremida neles, assim como com um feixe de varetas, para colocá-los em pé. isso abre um novo rumo para minha pesquisa: QUEM espreme as varetas?
22 de ago. de 2008
Pérolas do dia
A perspectiva do antes e a do depois:
PA: só amadurece quem sofre. Então, sofra que é bom.
PD: quem sofreu conhece uma coisa a mais. Quem sofreu, há séculos, como eu (assim me safo de tanta responsabilidade), lembra-se até hoje. Hoje que sou uma pessoa enfim realizada (ajeita os cabelos), preciso dar um depoimento de pessoa realizada. É assim: tudo quero e tudo tenho. Depois de ter, continuo querendo. Aliás, depois de ter, aí é que a coisa esquenta, e eu fico querendo mais. Durmo em almofadas almiscaradas.
Eu estava prestes a ser uma outra coisa, quando me esqueci. Devia ser coisa importante.
Quando me obrigo a escrever, como agora, só resta o próprio umbigo. Mas me disseram que só sei escrever assim, mesmo. Então fodas. Vou inventar uma escrita para sair de mim. Vai ser uma escrita para escrever sobre mesas, cadeiras... não dou conta. Vamos parando por aí. Clarice escrevia a repercussão das coisas nas pessoas. Eu tentei saber sobre o que escrevo, mas não tive resposta. É sobre mim mesmo, assim sem resposta. Parece que não tem coisas nessa estória. Parece prisão.
Tem um pouco de um, um pouco de outro. Queria dois: queria quem o quisesse. Só que ele não era fácil. Inventava amores, acreditava neles. Teria que passar mais tempo. Vai ver era assim: as coisas precisavam de tempo, e ele em sua aflição não sabia o que era isso. Muito menos sabia que "as coisas" englobavam muito mais coisas do que supunha.
20 de ago. de 2008
Se Nietzsche recebe uma primeira crítica que o acusa de propor algo como o fim do mundo, tal afirmação merece defesa. Por banir das preocupações teóricas a existência do plano metafísico, niilista é que, justamente, ele não é. Pelo contrário, sua filosofia, tomada como corpo coeso, afirma a realidade exclusiva da realidade dada aos sentidos, e de mais nenhuma outra. Por definição, qualquer outra seria impossível. Uma vez que não dada aos sentidos, é dependente de crença, tão-somente. Daí, inútil para um cientista – justamente quem vê apenas "evidências". Aliás, quem crê apenas nelas.
Depois (ou antes, não sei), ele afirma que essa realidade nem mesmo uma é, mas perspectívica.
19 de ago. de 2008
a coisa mais bonita que ouvi ultimamente, foi ela contando que dr. márcio ouviu dizer de uma estória budista (....?!....que estranho tudo isso....mas vamos adiante:) dizendo qualquer coisa parecida com o que vou dizer: quando vc começar um namoro, abra bem os olhos.... depois, quando a situação estiver mais firme, estabelecida, com vcs dois muito à vontade um com o outro, e aí aquilo tudo uma delícia, então aí vc pode fechá-los um pouquinho.
3 de ago. de 2008
sem me emocionar por algum tempo, ocorreu que agora estou ouvindo 'lifeline' novamente, e me lembrei
que eu já fui apaixonado sem receber retorno
mas me lembrei disso com carinho
dos sofrimentos que isso me causou
mas me lembrei com gosto, quase com saudade.
porque me lembrei que acreditei
que apostei.
que lancei.
um coup de dés jamais n'abolira
le hazard.
quero lançar tudo de novo – e quero o retorno que vai me tirar do sério, que vai me fazer de novo querer muito.
pois é o retorno que me fará querer.
eu já tive isso – e quero ter mais.
uma vez em que ele viveu aquilo, e depois acabou, daquela vez saiu da estória toda com uma falta, com uma não-resposta, que carregava até hoje. não tinha como responder se havia tido retorno ou não – não sabia o porquê do término – não sabia se o retorno que havia tido foi retorno mesmo, uma vez que acabou tão abruptamente, envolto em tantos argumentos – não sabia. só sabia que a coisa havia terminado. teve que ouvir aquilo. e o término sem a resposta era duro. com o tempo, aprendeu a suportar aquilo sem adoecer. e escrevia, escrevia o dia todo, para tentar compreender, sozinho que estava agora, aquilo tudo. e tinha que inventar para si alguma resposta, pois não tinha mais retorno.
e inventou. inventou várias, dada a complexidade da coisa. acreditou em algumas, enquanto outras ainda o faziam patinar. queria resolver esse estado de coisas.
23 de jul. de 2008
uma vez ou outra é importante se tratar bem. é como se, por decisão própria, eu optasse por sair de um cômodo cômodo. é porque aquele cômodo havia, com o tempo, deixado de ser cômodo: sua comodidade foi, muito sub-repticiamente, sendo substituída por uma aspereza insuportável. aí, nessa transição, tem uma hora em que toma-se uma decisão: a de sair dali.
22 de jul. de 2008
namoro sem beijo
no momento em que ele achava que ia abrir o editor de texto e despejar aquilo que tinha composto na idéia, palavra por palavra, pronto para ser psicografado, no momento em que ele abriu o editor de texto: não se lembrava de mais nada. então, escreveu de trás para frente:
estava sentindo falta de ser
criança novamente
só que, desta vez, com beijo.
20 de jul. de 2008
agora posso escrever
acho que antes eu estava interditado. as coisas que estava vivendo eram tão incompreensíveis para mim que tive que pedir altas por um tempo. como que sair de cena, me resguardar de um Outro massacrante. e quando volto a escrever é quando a pauta fica em branco novamente. e é preciso ouvi-la, para evitar cair num palavrório sem sentido. para evitar o artista incompreendido, para evitar ser engolido pelo espelho, afogar-se.
capaz de sair invisível ou transparente dali, começo devagar a me escrever de novo. ainda é difícil. ainda será sempre difícil, até que deixe de ser. por vezes, como que por encanto, deixa. ainda não é assim, mas cada palavra faz de mim alguma coisa. então fico achando que é por aí.
15 de jul. de 2008
conclusão:
a equipe não seguiu um método de projeto. utilizou-se, sim, de algumas rotinas, algumas ferramentas conceituais de projeto (grades, linhas ordenadoras etc.), mas as seqüência dessas, ou seja, seu percurso, só foi conhecida ao final dos trabalhos, por meio do relato.
é bem vindo um relato acerca da existência de um caso muito específico dos percursos de uma atividade criativa onde o método era inventado a cada instante. Essa verificação sugere a possibilidade, mesmo, de que isso é o mais usual na prática de projeto de parte dos projetistas, mas não sua conscientização ou a discussão acerca de seus temas.
não se trata de optar por um universo moldado segundo a teoria do ser, ou segundo a do devir. não se trata de uma escolha ideológica, ou um partido a ser tomado. este trabalho buscou dizer algo a respeito do processo criativo que se situasse do lado de dentro da caixa preta proposta por Latour, e o que encontrou ali? mapeando o jogo, no tabuleiro em questão, operacionalizando os conceitos de universo do ser e universo do devir para quem projeta, propõe, como teoria (ou ainda anti-teoria, já que só surge no final, e tem apenas uma linha, ou método, para quem se sentir confortável com essa nomenclatura), que ele, o projetista, baixe a guarda, desça o topete moderno, tenha prazer com as coisas de que gosta e, se por acaso ele tiver gosto por projeto (o que iguala fazer projeto a aprender a fazer projeto: existe um percurso sem fim a ser trilhado, ainda que aleatório), vai ser um excelente arquiteto.
alguém pode optar por não ser nem conceber a própria tal da existência como se essa fosse imersa no mundo do ser, mas que essa tivesse a possibilidade de ser vivida deoutro modo. o mundo do ser, de quem quer saber como o mundo é, como quem analisa retratos imobilizados do processo de criação (isso é aquilo; aquiloutro é mais alguma outra coisa, e assim em diante: as coisas NÃO PODEM ser o que quiserem: eu pontifico o que elas são e ponto final), mas através imagens de mundo que preferem vê-lo como algo que tem alguma tangência com o mundo do devir, que se interessa pelos impulsos, pelas mudanças, pelo caos que se instala quando abre-se o espaço onde aquilo que o autor não é pode fazer parte integrante de seu ser, se é que esses conceitos sobrevivem à essa avalanche do Outro sobre aquilo que supunham, até então, ser.
Essa é uma pergunta que o autor de um trabalho de projeto arquitetônico pode fazer a si. Não quero dizer que eles têm feito isso ou precisem fazer isso, mas tão-somente que essa possibilidade existe.
29 de jun. de 2008
mas o que mesmo é que ele via, quando se via caminhando só pelas bordas daquele lago gelado, naquela paisagem toda sombreada, com um solzinho de merda filtrado por mil folhas, com passos largos, lentos, mãos dadas atrás?
quem sabia caminhar bem daquele modo, senão ele mesmo – ele, que jurava de pé junto que acreditava que era um ser que encontra todas as dificuldades possíveis para se estabelecer como pessoa...
ele, que nem precisa tanto assim...
and the captain says...
(apud laurie anderson)
this is the hand…
the hand that takes.
ave drummond
vai ser gauche na vida.
20 de jun. de 2008
não através do ponto de vista do ser, como quem analisa retratos imobilizados do processo de criação, mas através do ponto de vista do devir, que se interessa pelos impulsos, pelas mudanças, pelo caos que se instala quando abre-se o espaço onde aquilo que não sou pode fazer parte integrante do meu ser.
19 de jun. de 2008
16 de jun. de 2008
não obstante eu privilegiar chaves interpretativas que dão vez a pontos de vista situados dentro de visões de mundo que, por sua vez, privilegiam concepções de mundo afetas a considerar o ser (o que há) como eterno devir, em detrimento de visões que privilegiam o ser fixo, dotado de identidade, unicidade e permanência, uma observação deve ser feita:
enquanto o devir se distende no tempo, o ser se distende no espaço. suas existências são ocupações. não é o caso fazer opção por um modo em detrimento do outro, pois há algo de comum entre os dois. um desce o rio, outro espreguiça-se no ar. não há escolha ideológica a ser feita, quando o ser passa a ser feito um pouco pelo devir, tanto quanto o devir passa a ser feito um pouco pelo ser. não é assunto como o de times de futebol, onde defende-se uma posição e ataca-se a outra, seja por qual argumentação for.
assim,
o cerne de minha existência é não ter cerne, e é o instinto de sobrevivência o que faz de mim um planejador.
8 de jun. de 2008
Ele, e algumas coisas em torno, simplesmente eram. O que? Não sabíamos ainda – não estavam prontos. Sem ter ainda atingido, colocado como ideal, o status de coisa, muito bem aconchegadas em águas elas simplesmente liberam no universo do devir. Liberam a pretensão a coisa. Deixam-se, mais simples, descer o rio.
Então resolvera, mais uma vez, que era uma pessoa que merecia alguns prazeres. E isso fazia bem a ele. Respirou, sentiu de novo a brisa que entrava pela janela daquele quarto bem ventilado, numa temperatura aconchegante...
Bocejou. Não tinha nenhuma vontade de fazer muitos planos. O que fazia era, há algum tempo, uma questão de vadiagem. E, para vadiar, era necessário um total desprendimento. Para vadiar, meio que como quem não comprou vontades. Vadiar. Conhecia algumas coisas boas, e queria viver, mais uma vez, alguma dessas pérolas que o destino, por vezes, nos apresenta.
7 de jun. de 2008
Por vezes era carcomido por idéias tenebrosas. Então punha-se a escrever, para ver se alterava tal estado de coisas. As idéias tenebrosas eram fugidias, e assim que resolvia se meter com elas, percebia que elas iam para outro lugar que não a sua cabeça.
Pois estava às voltas com uma coisa que nunca havia conseguido resolver direito em sua vida: a exclusão. Era, assim, excluído da possibilidade de uma realização pessoal – a realização de sua vida. Parava de tentar resolver isso, deprimido e aturdido, para se ver, adiante, de novo metido com a coisa. Vendo-se, achava que, desde o último round, não havia progredido nada. Vivendo uma vida de estrangeiro, por vezes achava que a mãe seca de seu pai havia razão quando disse a ele que este mundo não é nosso. Criança, havia sido excluído de algo que se passava entre seus pais. Adolescente, havia sido excluído do grupo de homens que recebeu, do pai, a noção de que o mundo seria uma espécie de parque de diversões grátis. Não era. Podia ser para outros, e aliás ele acreditava que certamente era para alguns, dado o modo convincente como esses falavam das coisas prazerosas que faziam. Seria comércio aquilo? Será que falavam de modo convincente só para acreditarem na coisa através do expediente de fazer os outros acreditarem? Não tinha respostas para essa pergunta, como não tinha para muitas. Tinha acabado de ouvir de um amigo que as respostas têm utilidade zero. Concordava: sua vida se parecia mais com uma sucessão de perguntas, cada vez mais cabeludas. O português tinha que ir melhorando, para acompanhar a complexidade da coisa toda.
De algum modo, fazia também o seu próprio advogado do diabo: mais da metade do que escrevia era lixo, e na outra metade acreditava pouco. Por exemplo, não dava conta de evoluir uma estória onde uns imbecis ficam de bacana só porque seus papais não os ensinaram a enxergar adiante dos próprios narizes. Ainda assim, sua coisa escrita era meio um embuste: quem eram esses de quem falava? Névoa-nadas. Não existiam, salvo nos seus textos. Adorava generalizar para escorregar das questões complicadas nas quais se metia. Generalizava para evitar mexer com o assunto da exclusão. Explicava-se: generalizando, não encostava em ninguém. Através dessa artimanha tratava com gavetas - não com pessoas. Fingindo lidar, desse modo, com pessoas, evitava-as a todo custo. Guardava a sete chaves o lugar do excluído para não lidar com assuntos assustadores. Assuntos que não dominava, assuntos que não podia fazer dobrar diante de sua vontadezinha. Assuntos que não existiam ainda, e nunca existiram, pois que para tanto seria necessário mais um, além dele.
Assim, brigava. Sua vida era uma sucessão de brigas, contra inimigos ora nítidos, ora sombras. Amadurecia aos poucos, deixando as sombras sombras. Tinha coisas que não compreendia. Assim, ignorante, cada vez com os miolos mais frouxos, relaxou e, num último suspiro, foi-se. Isso aqui vai ser revisto mil vezes – na 14.400ésima vez, ele consegue.
2 de jun. de 2008
28 de mai. de 2008
no comments
a desestabilização grassava solta.
método, organização, procedimentos, ninguém mais se entendia.
era preciso dar acolhida a tal estado de coisas, ao invés de não.
era preciso apurar os ouvidos, a boca...
queria ficar todo apurado.
27 de mai. de 2008
[Insira o Título da Postagem Aqui]
num conto, o elevador não parava mais de descer.
aos poucos, a guarda vai cedendo
as falas podem ser ditas
a vida silenciosa das palavras
acontece
e
21 de mai. de 2008
eu não estou me entendendo.
e estou achando ótimo por não estar me entendendo.
será que isso é uma espécie de proteção que crio para mim mesmo, para não sofrer uma separação?
uma muralha de ferro
que eu fiz
para me proteger
olha que coisa ótima
isso não seria uma novidade pelos lados de cá?
digo, querer me proteger, querer o meu vá-para–frente, cresça,
eu querer o meu bem?
isso é um pouco diferente de se legitimar.
é mais.
a legitimação vira um trocado sem maior valor.
e crio,
e me protejo.
sobrevivo.
mais, quero minha sobrevivência. isso é muito diferente.
dou um adeus, e peço para ele desaparecer da minha frente.
isso aí é o banho de enxofre de Paulo.
fazer o que?
mas cada vez menos linhas?
essa escrita assim, intimista...
essa escrita da corda bamba
essa escrita que busca (e às vezes consegue) algum tipo de legitimação de dentro para fora, escrutinando-se atenciosamente
de quem quer deixar o lugar daquele que é incapaz de imaginar como deve ser ver através dos olhos de outro
que quer sair do solipsismo, e para tanto afunda-se nele cada vez mais
até atingir alguma lucidez
tirar um pouco da fumaça de sobre os olhos
respirar ar puro
passar uma noite sob a lua cheia
viver no luxo...
sou todo cheio de defeitos
não mais, não menos que ninguém.
20 de mai. de 2008
crítica ao conceito de eu como oposto ao conceito de outro
o outro não é o não-eu, ou o exclusive-eu: se não posso resolver se "eu" é o que eu acho que é, ou se isso é assunto para o olhar do outro sobre mim, isto é, o que "ele" acha, é porque o eu é feito um pouco pelo outro. como dizer isso na linguagem dos afetos? um vive com cara de quem está querendo; outro, como quem não quisesse... o outro. ignoto. quanto mais ignoto, mais desejado.
19 de mai. de 2008
quando me submeti à juventude
eu tinha que ser aprendiz
aos poucos começo a fazer as pazes com os primeiros fios de cabelo branco na barba.
quando eu tinha que ser aprendiz
eu era neném: todo vazio: precisava aprender tudo.
aos poucos volto a valorizar o que já vivi.
quando vi que meu mundo não era aquele
(como eu ansiei por que fosse....
como eu sofri por não ser....
como me martirizei...)
doeu como dói em alguém a quem se diz que o prazo terminou.
mas tem que morrer mesmo – e quanto mais rápido melhor:
me lembrei de que gostava do que já vivi
que me dava muito prazer lembrar das coisas que me moldaram o otávio de hoje.
gostava de ter passado por tudo o que passei
gostava de me achar um homem de musculatura forte e bem articulada.
18 de mai. de 2008
17 de mai. de 2008
já fiz tudo o que eu sabia fazer. do que sobrou, dei de graça. não guardei comigo nenhuma recordação do que eu era, mas agora já não era mais preciso nada disso. tanto fazia, porque aquelas coisas que eu gostava de ter comigo não me interessavam mais. esse estado é perigoso, porque eu vou deixando de gostar das coisas. das pessoas. meu medo delas vai se tornando mais agudo. vou perdendo a auto estima, vou listando minhas bacanices...
perco a habilidade – não. nunca tive. mas nem sempre isso foi motivo de sofrimento. existem algumas pessoas que gostam de mim. eu choro quando me lembro delas. como quem dá adeus, morrendo de saudade e de tristeza.
que choro é esse? o que é essa coisa sem fim que me faz mergulhar no de dentro de mim, dura? amarga, difícil de permitir recair, sobre si, o olhar do outro. escrevendo assim, como nessa última frase, eu construo uma distância entre o eu atual (o que está escrevendo) e aquele outro, objeto de observação (o que chora). é como se me descolasse, assim, de minha tristeza.
minha máquina de gostar está doente.
6 de mai. de 2008
era tudo novo ali.
não podia mais entrar com aquele ar arrogante...
de majestade que perdeu o trono...
ora...
por isso queria ir com delicadeza. começou a perguntar-se, então:
- de que vc gosta?
primeiramente, ouvia só o vento nas orelhas.
mas, depois, aos poucos,
foi discernindo sinais.
agora precisava tratá-los com atenção. não queria perder aquilo.
5 de mai. de 2008
aquecimentoesquecimento
sim, doía, mas não era sobre isso o aquecimento.
este era uma abertura ao que não conhecia. e existia a possibilidade de tentar alguma coisa nova.
isso, sim, era o motivo de se assentar e voltar a escrever, depois de algum abandono.
e se perguntava:
o que o havia pegado tanto?, como se fosse um terceiro cujo olhar indagava, assim, cruzando por ele na calçada apinhada.
não queria perder mais tempo.
a urgência que se seguia era avassaladora. não tinha mais nenhum motivo para ficar daquele jeito.
2 de abr. de 2008
19 de mar. de 2008
fim dos trabalhos
escrever, projetar: é necessário, para fazê-los bem, alguma (e não nenhuma) abertura para o desconhecido. isso é absolutamente inseguro: um pouco desse tipo de abertura já é abertura total. mas dá gosto ver gente que desafia isso.
o método, que anteriormente afunilava-se para uma única linha ( -não há método), continua só com uma, mas uma outra, que atribua algum valor às demandas afetivas, ao invés de, como concebido correntemente, afastá-las por princípio. um método mais doce: e mais vazio.
15 de mar. de 2008
.
(recompôs-se)
.
vamos começar tudo de novo.
depois de tomar e fazer e fazer acontecer, aquelas doenças continuavam no mesmo lugar. ele, que achara que tomara alguns passos em direção à sua felicidade, estava redondamente enganado: as doenças estariam todas lá, do mesmo modo, com vc se reconhecendo ali e, com sorte, descansando um pouco.
.
não deu. precisava maiores explicações, demandava.
.
é o seguinte: felicidade é esquecimento do presente. isso. não é que a gente não consegue colocar o dedo no presente> pelo contrário, não fazemos outra coisa, uma vez inapelavelmente atolados até o pescoço. não achava ruim esse banho de lama. ele chupava meus miolos, e eu ficava ali, boiando, na meleca, esquecido. só boiando. bom................
12 de mar. de 2008
não me roube
houvera por bem dar conta da indigestão que havia tomado conta de seu blog. e isso era uma coisa inadmissível.
então, era o eu da hora que dizia ao mais antigo, indigesto:
não me roube
2 de mar. de 2008

29 de fev. de 2008
27 de fev. de 2008
fazer o que? aurora é aurora. que chega saudada por mim. que venham bons ventos, bons cheiros, tudo de bom (estava pressentindo isso).
ia aprendendo, também lentamente, e através de olhos que não os seus, a ver um pouco melhor, uma vez a claridade se restabelecendo, os olhares que sobre si recaíam.
estava morto de sono. queria muuuuuuuuuuito a cama, e aquele travesseiro de pluma, e algumas horas para largar-se.
24 de fev. de 2008
alguns posts curiosos
a idéia, fugidia a coitada, fraquela - esqueci. idéias precisam ser anotadas rapidinho. senão continuam na eterna mudança de forma à qual estão sujeitas uma vez descentes do rio sambation.
(este é o terceiro: ....aliás, o segundo não disse a que veio até agora. sabe sim. lembre-se. é que estou um pouco com vergonha. era alguma coisa da ordem do afetivo lá de dentro do coração, que a gente custa a tocar, ver... quanto mais escrever.... mas a forma da idéia: eu, antes de tocar o teclado, tenho formas de vapor no rio de minha cabeça (mente... cérebro... que palavras.....).... idéias são como reticências..... ............. .................... tocar no teclado é dar porradinhas escoladas em quadradinhos com mola. tocar é dar forma. aí é que elas deixam de ser de vapor.
ufa que meu pai trabalha.
as formas, na mente, são feitas com vapor. nem papel, nem computador, nem mãonamassa.
20 de fev. de 2008
19 de fev. de 2008
mas era o que de meu está dentro dele (do colega), dessa figura que EU concebo como sendo ele, que me segredava as respostas: não por falta de perspectiva profissional, não por nada da ordem do prático: mas sim por falta de algumas coisas da ordem do amor. essa falta andava subjugando-o. mas as faltas são para serem convividas –com, toleradas, administradas, como o suporte do trabalho. eu trabalho para cobrir essas faltas. esse é um trabalho de um mito, um cara obrigado a um trabalho tão eterno quanto inútil.
logo, eu administro a falta para torná-la suporte para alguém que vá trabalhar para tapá-las. consciente da inutilidade da coisa, volto a administrar a falta.
18 de fev. de 2008
me mandaram isso. olha que lindo:
17 de fev. de 2008
O coelhinho felpudo estava fazendo suas necessidades matinais e, quando olha para o lado, vê um enorme urso fazendo o mesmo. O urso se vira para ele e diz : - Ei, coelhinho, você solta pelos?? O coelhinho, vaidoso e indignado, respondeu: - De jeito nenhum; venho de linhagem muito boa.... Então o urso pegou o coelhinho e limpou seu traseiro com ele.
16 de fev. de 2008
hindy, júnia, cassinha, hélio, marcos, marisa, lulu, pitu, zezinho, guedes
isso o fez feliz.
aquela noite tinha TUDO para ser uma das piores noites de sua vida. não foi. antes pelo contrário, lembrou-se dela que dizia: quando precisar, peça.
pediu. reviu os amigos. e lembrou como gostava deles, da bagunça deles, do falatório, do palavrório, das sapienças, mas, principalmente, dos afetos.
voltou para casa tarde, com um pouco de whisky na cabeça, com receio de voltar ali, para aquela casa com a qual a relação era, como havia dito há pouco, no mínimo confusa. mas era também uma casa que me mostraria uma ausência, com a qual não sabia ainda como iria lidar. sucumbiria? e lembrou-se dela novamente, aquela que era uma pessoa para o resto da vida: havia-lhe dito, há pouco também, que não sabia como lidar (na verdade, ele não sabia como lidar com nada, e estava tentando extrair dali sua força) com o fato de estar se dando conta de que (às vezes duvidava, também) o fim do desejo era dos dois lados.
antes, havia ouvido: não enlouqueça. mas estava completamente desaparafusado. pois não acreditava nem que era uma vítima. o que lhe sobrava?
o sono e o vento.
15 de fev. de 2008
responsabilidade
ventos
como fazer para amar aqueles dois ou três? não acho que ando tendo, também, muita competência para isso. mas sei que eles gostam de mim. mesmo com todas as minhas confusões. como fazer? não sei. mas isso também não importa. eu nunca precisei mesmo ficar organizando nenhuma cena para isso. mesmo para eles eu estou pedindo, aqui, desculpas pela falta de competência. estou desesperado.
2 de fev. de 2008
uma confissão
eu só não sei mesmo
qual é o deus, deuses, universos, entidades superiores, pais, mães, encheções de saco
a cujos pés devo me postar.
.
afinal, eu sou só parte.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
que enrascada...
27 de jan. de 2008
eveline hecker canta lindo que se meu mundo caiu, eu que aprenda a levantar.
estou privado de um tanto de coisa
até agora, lastimava.
agora resolvi mudar isso.
tá na lona mesmo
e eu dou conta disso.
te vira.
http://www.controversia.unisinos.br/index.php?e=1&s=9&a=37#18v
as fotos que eu faço
23 de jan. de 2008
comemoração
20 de jan. de 2008
não leia
pois bem: foi para o fim do papo. foi sem medo, foi querendo saber o que haveria ali, por detrás daquela porta.... no percurso, ia percebendo que nunca vira coisas tão insólitas. nunca teria imaginado, um dia na sua vida, que veria coisas daquela ordem. mas viu. e resolveu contar. por isso escrevia.
bobagem crer que havia algum penso nas coisas que escrevia: estava chegando de um almoço que mais parecia uma ceia do último dia, onde bebera muito vinho siciliano. depois, ainda sob os efeitos daquele estado de excitação descontrolada, fumara várias coisas, e, mais ensandecedor, se punha a escrever.
tinha consigo uma impressão, o tempo todo, que não saía do lugar. não obstante, as linhas ainda não desenhadas desse editor de textos iam se preenchendo com palavras encadeadas em uma coerente gramática.
perguntava-se, então: o que mesmo? haveria algum sentido naquele conjunto de palavras? ou aquilo era coisa passageira? além disso, percebeu ali, naquela conversa consigo próprio, que estava contrapondo "sentido" a "rio".
17 de jan. de 2008
schüller - heráclito - silviano brandão
esse é meu sobrinho e afilhado bê, na guarda do embaú/sc.
16 de jan. de 2008
9 de jan. de 2008
Sim, porque é muito comum que eu me assente para escrever sobre nenhuma coisa, e isso pode parecer por vezes um pouco esquisito. Escrever sobre nenhuma coisa é muito fácil para mim, e então eu vou inventando, ao longo da escrita, ela própria. E imagino que deve ser assim que uns bons escritores escrevem – basta imaginar uns exemplos: Qual seria a diferença entre um grande livro e um pequeno livro, em termos de números de páginas ou de quilogramas? Porque alguém se proporia a escrever um grande livro, se um pequeno livro bastaria? Enchimento de lingüiça? Não acredito. Há alguma coisa que só surge no durante, que não tem relação direta com aquilo (que pode ser chamado de ‘idéia’) que, antes da escrita, põe a pessoa para escrever. Mas vamos lá:
A coisa em questão era o que andava vivendo junto ao seu pequenino, nas aulinhas de reforço de inglês. Como ele havia perdido um mês de aulas por causa da gripe, achou que era bom fazer isso. E ele é todo aplicadinho. Vc precisa ver a belezinha que é ele falando ‘thursday’! Eu marcava algumas atividades do livro, para ele fazer sozinho, e em seguida ele vinha até mim com o livrinho todo escrito, desenhado e colorido. Eu corrigia, elogiava e colocava ele muito para cima quando a coisa estava boa, deixando-o todo inchadinho. Era severo quando ele não pesquisava as dicas disponíveis. Procure por aí! E deixava ele no tempo dele. Antes, demandava dele que utilizasse os instrumentos à sua disposição, ou ainda que procurasse esses instrumentos, fosse atrás, essas coisas. Estou gostando de dar aula para ele. Aí ele vinha até mim mostrando logo que havia descoberto determinadas pistas. Todo felizinho de novo, e fazendo o para-casa na maior alegria. Quando cansava, a aula terminava.